domingo, 20 de maio de 2012

FOGO


O sol morre preguiçoso no horizonte, debruço na janela e olho a rua, meu coração está acelerado, passará por emoções fortes em breve. Quando o sol termina seu espetáculo particular ele aponta na esquina, a boca fica seca, minhas pernas tremem, meus olhos brilham e a mão sua fria.

Junto minhas mãos e respiro fundo,  como acontece todo o dia, ele pára  em um dos bares, fico a observar e após secar seu copo ele se despede. Afasto-me da janela ao perceber sua aproximação. Devagar me encaminho para a sala, ligo a tevê e simulo estar vendo atenta a novela, faço isto todos os dias.

Ele entra e me olha devagar, observa meu cabelo, minhas pernas, meus olhos. Em silêncio ele caminha para o banho. Sabendo o que devo fazer me levanto e vou para a cozinha, verifico novamente o jantar e faço os ajustes finais. Ouço-o sair do banho, o cheiro do sabonete invade a casa.  

Posto a mesa, faço o prato dele e me sento verificando a forma que ele mastiga, observo atenta aonde ele leva  as mãos. Tudo é muito rápido e isto me deixa feliz, uma das mãos toca a barriga e chega até a garganta, seus olhos negros se arregalam para mim, eu apenas sorrio. Ele puxa a ponta da toalha da mesa com a outra mão, joga tudo no chão, a mistura do molho com suco de morango faz desenhos inexpressivos no chão. Ele cai espalhando os desenhos em torno de se, seus olhos agora não exprimem nada, as unhas ainda encolhidas ferem a pele do pescoço.

Aguardo alguns minutos e me retiro, vou até o quarto e pego a mala e o dinheiro, aguardei por este momento a exatos cinco anos. Antes de sair do quarto olho-me no espelho, a maquiagem não esconde completamente os arroxeados nos meus olhos, mas a roupa comprida esconde as marcas no meu corpo.

Aproximo-me novamente do corpo, vê-lo ali indefeso só aumenta o meu prazer. Toco-lhe a face retorcida, acaricio sua pele ainda quente. Observo os cabelos e suspiro dizendo a mim mesma.

—Por que me obrigou a isto? Eu lhe amei tanto!

Sem peso na consciência despejo o liquido em cima dele. Observo ele escorrer até a varanda. Enfio um pedaço de pano em sua boca. Tiro as luvas, pego a mala, desço os degraus devagar, antes de fechar o portão acendo um cigarro, descuidada jogo o palito, ainda acesso, na varanda. Sorrio e caminho despreocupada, o vento beija meu rosto. Não olho para trás, não quero saber o porquê tantas pessoas gritam. Hoje eu me libertei.

Fim


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